domingo, 25 de maio de 2008

>>>Reportagem em Quadrinhos-Entrevista com Fábio Franco



Bom, como a entrevista que eu fiz pra minha primeira matéria do jornal-laboratório do meu curso teve que ser editada, decidi colocá-la aqui na íntegra. A matéria fala sobre novos estilos que estão surgindo em quadrinhos: poesia, quadrinhos biográficos e reportagem quadrinhos também. Tendo como precursor o maltês Joe Sacco, criador de obras como Palestina, esse gênero recebeu uma inesperada contribuição no finzinho de 2007 com o trabalho de três jornalistas advindos do Centro Universitário da Bahia-FIB: Fábio Franco, Caio Coutinho e Leandro Silveira fizeram de seu TCC uma reportagem em quadrinhos chamada "Vanguarda: história do Movimento Estudantil da Bahia", que trata justamente do pioneirismo baiano nas lutas estudantis em quatro diferentes épocas, desde passeatas contra o nazismo em 1942 passando pela ditadura até a “Revolta do Buzu”, em 2003. A reportagem deu tão certo que foi aprovada com nota máxima pelo meio acadêmico e foi publicada durante todo às terças-feiras do mês de novembro de 2007 no caderno DEZ! do jornal A Tarde, da Bahia. A entrevista é apenas com um deles, Fábio Franco, que conseguiu tempo pra responder meus e-mails e concedeu gentilmente as respostas a tempo, graças a Deus!^^Muito obrigada, Fábio!

REPORTAGEM EM QUADRINHOS É POSSÍVEL

Calandragem: Como se deu o trabalho de pesquisa para a produção da reportagem em quadrinho “Vanguarda: História do Movimento Estudantil da Bahia”?
Fábio Franco: A princípio o nosso tema para a pesquisa seria outro. Mas não conseguimos material suficiente para produzir uma boa reportagem. Daí resolvemos falar sobre movimento estudantil. Passamos um ano pesquisando em jornais, livros e entrevistando pessoas. Foi um período complicado e satisfatório, porque acabamos descobrindo que a Bahia (e não o eixo Rio-São Paulo) que tinha sido pioneira nas manifestações estudantis brasileiras.
Calandragem: Um dos contra-argumentos contra a elevação a status de novo gênero jornalístico na reportagem em quadrinhos é que questões como enquadramento das cenas e detalhes necessários a uma narrativa em quadrinhos estariam muito além do que o repórter seria capaz de apurar. Como foi esse processo de apuração no caso da Vanguarda?
Fábio Franco: Nós optamos por fazer a apuração seguindo os moldes do jornalismo tradicional: fizemos pauta, entrevistamos, editamos e fizemos a reportagem. A partir daí que adaptamos o texto à linguagem dos quadrinhos, roteirizando e criando os story-boards. Mas teve um ponto principal: quando nós entrevistávamos, buscávamos muito mais detalhes que um repórter comum. Pedíamos detalhes das cenas, tipos de roupa, como falavam, o que falavam, entre outras coisas.
Calandragem: Quem foi que teve a idéia “maluca” de fazer do TCC uma reportagem em quadrinho?
Fábio Franco: A idéia inicial foi de Leandro. Ele queria fazer um site sobre jornalismo em quadrinho, mas nada tão audacioso como foi o projeto final. Em seguida Caio se juntou a Leandro e mudaram de site para reportagem. Eu estava fazendo uma monografia sobre charge. Como a nossa orientadora era a mesma e a linha de investigação era parecida, ela nos indicou para agrupar as informações e fazer um trabalho maior. Foi então que eu tive a idéia de falar sobre o Movimento Estudantil, tema esse que já havia sido reportado por mim e Leandro durante a graduação.
Calandragem: Vocês enfrentaram muito preconceito por escolherem os quadrinhos como mídia?
Fábio Franco: Com toda a certeza. Muita gente duvidou. Quando Leandro apresentou a idéia inicial do site, alguns alunos da nossa turma riram. Mas o que valeu foi a força de vontade e o entendimento que poderíamos provar que o quadrinho era um novo meio de transmitir informação jornalística, com credibilidade e fiel aos fatos. Não foi à toa que muitas pessoas elogiaram o material depois de pronto, em virtude de criar um método capaz, inclusive, de formar o hábito de ler jornal em jovens.
Calandragem: Aqui na UFPI, os formandos enfrentam muita dificuldade em escolherem um projeto experimental como trabalho de conclusão de curso, inclusive sobre a forma de livro-reportagem. Vocês enfrentaram muitas dificuldades quando propuseram uma reportagem em quadrinho? Como o meio acadêmico da FIB encarou isso?
Fábio Franco: Com toda a certeza. A primeira barreira foi de Leandro. Depois tivemos que lutar para o conselho acadêmico aceitar um trabalho com três alunos, fato que nunca havia acontecido. E pior foi aceitar um trabalho que ninguém havia feito. Porque no livro-reportagem, numa grande reportagem existem produtos que servirão como base para avaliação. Mas o nosso era inédito, então como poderia ser avaliado? Só que na primeira avaliação do conselho, na metade do projeto, fomos elogiados ao máximo, porque os representantes puderam perceber o que estava nascendo ali. No fim de tudo fomos aprovados com nota máxima, sem ressalvas. Mas como sempre falamos, independente do que estiver propondo, o aluno deve se empenhar, pois aquele pode ser o seu "cartão de visitas" no futuro.
Calandragem: Vocês tiveram contato com algum tipo de produção brasileira do gênero ou foi apenas inspiração da obra de Joe Sacco?
Fábio Franco: Nossa base foi Joe Sacco, até porque não havia nada publicado no Brasil, da forma como propomos. Nós encontramos apenas uma entrevista e crônicas em quadrinhos. Nós queríamos mais. E diferentemente do que Sacco faz, participando como personagem na estória, nós seguimos a risca o ideal de "imparcialidade" do jornalismo. Queríamos fazer uma reportagem, pelos métodos convencionais, a diferença seria apenas o veiculo.
Calandragem: Como anda a preparação do site próprio da Vanguarda?
Fábio Franco: Estamos finalizando o layout. Em breve teremos estórias inéditas e reais para os leitores. É uma conquista, fruto de muito trabalho ( e põe trabalho nisso). Teremos um blog também onde daremos dicas e receberemos opiniões e possíveis pautas.
Calandragem: Algum de vocês pretende continuar com projetos voltados para a produção de reportagem em quadrinho?
Fábio Franco: Todos nós. Trabalhamos juntos, apesar de cada um trabalhar num veiculo. Nosso ideal é "viver" de jornalismo em quadrinhos. Continuamos produzindo estórias novas, buscando fatos interessantes e capazes de ser transformados em reportagem. nossa equipe possui oito profissionais entre jornalistas, ilustradores e designers. E temos desejo de manter essa equipe unida.
Calandragem: Vocês acreditam que a prática pode se difundir e chegar a criar um novo gênero jornalístico reconhecido aqui no Brasil?
Fábio Franco: Quando Sacco começou a fazer as reportagens dele, jamais havia imaginado no que aquilo poderia se tornar. Hoje seus livros mostram uma realidade. Nós escrevemos mais um capítulo. Nós criamos e colocamos nossas digitais. Mesmo que não chegue ao patamar de Joe Sacco, já estamos felizes por ter o reconhecimento dos acadêmicos e dos estudantes e jornalistas do Brasil. Mas criatividade só, não basta. As empresas de comunicação do Brasil ainda não abriram os olhos para o potencial dos profissionais daqui. Infelizmente ainda estamos tentando divulgar esse novo gênero e esperamos que em breve mais pessoas estejam fazendo jornalismo em quadrinhos por aqui. E tenho certeza, que como todas as outras profissões, o jornalismo também precisa de empreendedores.


Mila Monteiro entregou a matéria com bastante atraso(não por causa do Fábio, mas ainda bem que deu pra publicar a entrevista) e procurou o e-mail do jornalista Fábio Franco na lista de(40)comentários do post sobre a reportagem em quadrinho no blog do caderno dez!

ps.:
>>>site do Vanguarda
>>>tem uma matéria que me deixou morta de inveja sobre jornalismo em quadrinho no site da revista língua portuguesa aqui
>>>sobre o Joe Sacco e seu trabalho aqui

1 comentários:

Anônimo disse...

Gostei!.
^^

 

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